Prefeitura ´divide´ ação de derrubada das amendoeiras com o Estado

Amendoeiras que serviam como abrigo para as Maritacas foram derrubadas
José Nazal

A Prefeitura de Ilhéus apresentou hoje os esclarecimentos ao Ministério Público da Bahia sobre a derrubada de árvores na orla do centro da cidade. Segundo o documento foi uma ação conjunta com a Secretaria de Infraestrutura do Governo do Estado, através da contratada OAS, que teve a autorização ambiental, sendo dado o devido tratamento aos ninhos e suprimidas as árvores onde haviam maritacas.

Hoje também o Instituto Nossa Ilhéus e o Grupo de Amigos da Praia protocolaram uma representação contra a Prefeitura de Ilhéus junto ao NUMA – Núcleo mata Atlântica do Ministério Público, cuja Promotora responsável é Aline Salvador.

Na semana passada, o Promotor Paulo Sampaio da 11° Procuradoria de Justiça enviou ofício a Prefeitura solicitando explicações dadas hoje e protocolou na Justiça uma Ação Civil Pública solicitando a suspensão do corte das árvores até que a Prefeitura apresentasse um Plano de Manejo da Fauna. O corte foi suspenso, mas o plano não foi apresentado. 

A Prefeitura também não apresentou ainda o Processo de Licença Ambiental da obra do entorno da Ponte Jorge Amado.

Relembrando os fatos

No último dia 7, a Avenida Soares Lopes, uma das mais tradicionais de Ilhéus/BA, foi palco de uma cena que demonstra o descaso da gestão pública com o meio ambiente. A prefeitura da cidade autorizou a derrubada de árvores ao longo da via e a ação impactou severamente as aves da região, que ficaram desnorteadas após perderem seu local de pouso e abrigo. 

As árvores derrubadas eram da espécie Amygdalus Communis, popularmente conhecida como amendoeira. O impacto na flora foi imediato também na fauna. Já no mesmo dia, moradores da avenida registraram fotos e vídeos mostrando uma grande revoada de maritacas na busca por um local de pouso no fim de tarde. Sem descanso, nem abrigo, as aves chegaram às varandas de apartamentos próximos e despertaram o sentimento de inconformidade da população. Dias depois algumas maritacas chegaram a aparecer mortas.

O repúdio da comunidade ilheense à derrubada das árvores e a falta de um plano de manejo para as aves desabrigadas foi o que motivou a cobrança do Ministério Público estadual sobre a legitimidade da ação.

Mobilização social - Movimento Preserva Ilhéus

Enquanto isso, o assunto foi destaque nas redes sociais, recebeu apoio de várias pessoas, incluindo a cantora Anitta, que compartilhou o assunto em sua página do Instagram. A Imprensa deu ampla cobertura e as reportagens chegaram a ser exibidas na programação televisiva estadual e nacional. 

Ao mesmo tempo, circulou uma Petição Online, que hoje já soma mais de 12 mil assinaturas, exigindo que não sejam derrubadas mais árvores e que fique estabelecido o plantio de espécies nativas da Mata Atlântica, assim como a apresentação de um plano de mobilidade e urbanismo que contemple a sustentabilidade socioambiental para Ilhéus. 

À frente de toda essa articulação está o Movimento Preserva Ilhéus, que reúne representantes da sociedade civil organizada, ambientalistas, redes de empreendedores e diversos atores sociais em torno da pauta.

O Preserva Ilhéus foi criado a partir do repúdio da população frente à ação da prefeitura e está organizado para gerar, compilar e divulgar o material informativo, que circula nas redes sobre o caso, assim como a juntada de documentos para o MP e a mobilização social em todo Brasil. O Movimento atua com grupos de trabalho nas áreas jurídica, de comunicação, técnico-científico, mobilidade e urbanismo e ativos ambientais.

Amendoeiras x Palmeira Imperial

Apesar de não ser nativa da região, a amendoeira é uma árvore frutífera muito presente na faixa litorânea ilheense há pelo menos 60 anos. De acordo com a Prefeitura de Ilhéus, a derrubada aconteceu por se tratar de uma espécie de raízes longas, que alcançam e danificam as calçadas e o sistema de esgoto, e em substituição as amendoeiras, seriam plantadas palmeiras imperiais (Roystonea Oleracea), uma espécie que também não é nativa e pode ser encontrada em locais como o Jardim Botânico do Rio de Janeiro ou mesmo em avenidas de capitais no exterior como Miami.

Inclusive, as palmeiras imperiais das avenidas de Miami foram o exemplo escolhido pelo prefeito Mário Alexandre de Souza, para ilustrar em suas redes sociais um modelo de inspiração e avanço que a cidade de Ilhéus pode ter com a derrubada das árvores.

O abrigo das maritacas

Nativa ou não, as amendoeiras da Avenida se tornaram o hábitat de várias espécies animais. O médico Cláudio Moura Costa, também observador de pássaros, já fotografou 40 espécies de aves só na Avenida Soares Lopes. 
As maritacas são as de maior número. As aves psitaciformes da família dos Psittacidaes do gênero Pionus. São semelhantes papagaios e pertencem ao bioma Mata Atlântica.